28 de mar. de 2010

Des Humanidade

Quase vencidas as mais de 1000 páginas do livro de Orlando Figes, "A tragédia de um povo: a revolução Russa 1891-1924", o que me resta são mais perguntas. Mudaram os líderes, mudaram os partidos, mas o homem continuou o mesmo. O diferente, o intruso, o inimigo foi desumanizado e aniquilado, vencido e trucidado, morto e vilipendiado. Tanto na literatura quanto na história , em diferentes épocas, vemos claramente a desumanização e intolerância com o outro:

-Raskólnikhov justifica a morte da velha agiota: “eu só matei um piolho, Sônia, e um piolho inútil, repugnante, prejudicial”;
-Escravos foram considerados como mercadorias e equiparados a animais;

-A morte de Gregor, tranformado em um horrível inseto, em Metamorfose de Franz Kafka, não causa maiores efeitos na família;
-Hitler animalizava os judeus associando-os a animais como, ratos e piolhos;
-Em Ruanda, nos estúdios das rádios populares, os tútsis são chamados de baratas, que precisam ser exterminadas, e assim milhares de tútsis são brutalmente assassinados, por milícia da etnia hutu, em apenas 100 dias.
-Um panfleto de grande sucesso na Rússia de 1917, entitulado "Aranhas e moscas", dividia a Rússia em duas espécies de insetos hostis.
"As aranhas são os patrões, os multiplicadores de dinheiro, os exploradores, a aristocracia, os abastados e os padres, os rufiões e parasitas de todos os tipos!... As moscas são os infelizes trabalhadores, que devem obedecer a todas as leis promovidas pelo capitalista - tal obediência torna-se obrigatória porque os pobres sequer tem uma migalha de pão."
"...purificar a terra russa de todos os vermes, das pulgas infames, dos carrapatos ricos...".

E assim ao longo da história vemos os papéis alterando, ora os dominadores, ora os dominados e todos irredutíveis na compreensão do outro, do próximo, do irmão... Eis o desafio que temos: aceitar o outro, reconhecê-lo, entendê-lo e por que não amá-lo? Não existe sociedade sem consonância, assim como não existe humanidade sem tolerância.

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