31 de jan. de 2018

Marcos

Os mais de 10 dias que passamos entre Verona, Veneza, Firenze e Roma foram deliciosamente deslumbrantes. O termo “deslumbrante” é insuficiente para expressar tudo que sentimos. Muitas vezes as emoções transformavam-se em lágrimas em cada obra de arte renascentista, em cada arquitetura poética, em cada palácio ornamentado de temas épicos e mitológicos, em cada passo pelas estreitas ruas e vielas, em cada olhar; desde a neve distante, os montes longínquos, até as pedras que alicerçavam os monumentos, que de forma inadvertida arrancavam lágrimas que teimosamente rolavam por nossas faces, para espanto e uma certa dose de ironia, de nosso jovem e estimado guia. A elegância dos transeuntes, o sussurrar dos sons clássicos que ecoavam os becos, o verde magnífico dos jardins, até o odor de Veneza, foram motivos de júbilo, contemplação, êxtase, emoção incontida. Jamais poderemos explicar em palavras tanto prazer! Seremos gratas ao Uni-Verso de algumas pessoas tão próximas, outras tão distantes que nos proporcionaram experiências significativas, gritantes, gratificantes. “A vida entre os homens é um fogo que queima, se dele tomarmos muito; mas se tomarmos pouco, ele nos alumia.” Somos hoje, uma espécie de centelha, graças aos nossos, Marcos, iluminadores.

Poema X Poesia

Poema é texto
Poesia é contexto
Intertexto a “coisa-em-si”

Poema é letras
Poesia é música
Som, calma, fúria
DÓ-SOL-LÁ-MI

Poema é escrita
Poesia é imagem
Cor, visão,
imaginação do que vi

Poema é matemática
Poesia é o número Pi

A chuva

Chuva que cai. Chuva que esvai. - Chuva que molha a terra seca. Como um bálsamo que acalenta a dor. Alivia o deserto de uma vida seca. Chuva molhada de amor. - Chuva que cai. Chuva que vai. E se transforma . -Em mar.

30 de jan. de 2018

Imagens de um sonho

O Trabalho e os Dias

Eles eram plantadores e moedores de cana, derrubadores de mata e semeadores de mudas; eram vaqueiros, remeiros, pescadores, mineiros, e lavradores; eram artífices, caldeireiros, marceneiros, ferreiros, pedreiros e oleiros; era domésticos e pajens. Guarda-costas, capangas e capitães-do-mato; feitores, capatazes e até carrascos de outros negros. Estavam e todos os lugares: nas cidades, nas lavouras, nas vilas, na mata, nas senzalas, nos portos, nos mercados, nos palácios. Carregavam baús, caixas, cestas, caixotes. Lenha, cana, quitutes, ouro e pedras, terra e dejetos. Também transportavam cadeirinhas, redes, literas onde, sentados ou deitados, seus senhores passeavam (ou até viajavam). Eles eram, de acordo com o Jesuíta Antonil, “as mãos e os pés dos senhores de engenho”. Mas, no Brasil, os escravos fora ainda mais que isso: foram os olhos e os braços dos donos das minas; foram os pastores dos rebanhos e as bestas de carga; fora os ombros, as costas e as pernas que fizeram andar a Colônia , mas tarde, o Império. Foram o ventre que gerou imensa população mestiça e o seio que amamentou os filhos dos senhores. Deixaram uma herança profunda: em 500 anos de história, o Brasil teve três séculos e meio de regime escravocrata contra apenas um de trabalho livre. Que conseqüências teve esse legado? Onde começa e para onde conduz? Quais suas origens? Já houve que arriscasse uma explicação: “Se há um povo dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele existia (...) Essa gente tudo prefere suportar a aprender uma profissão qualquer”, escreveu o humanista flamengo Nicolau Clenardo, ao visitar Portugal em 1535. É elucidativo que, em Portugal, o verbo “mourejar” tivesse se tornado sinônimo de “trabalhar”. Se no Reino era assim, pior ficou no trópico. Em 1808, ao visitar o Brasil, John Luccock, um Inglês, comentou que os brancos se sentiam “fidalgos demais para trabalhar em público”. Meio século depois, Thomas Ewbank, também britânico, dizia que no Brasil, “um jovem preferia morrer de fome a abraçar uma profissão manual”. Segundo ele, a escravidão tornara “o trabalho desonroso – resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem natural e destrói a harmonia da civilização”As críticas não eram arrogância britânica: para Luís Vilhena, mestre português que ensinava grego na Bahia, o Brasil era o “berço da preguiça” Fonte: Brasil: Uma História – Editora Ática – 1ª Edição.

Os Requintes da Crueldade

Como todas as sociedades escravocratas, também no Brasil a variedade de suplícios e castigos estipulados pelos senhores para punir seus servos foi ampla, geral e irrestrita. A punição mais comum era o açoite em praça pública, regulada pelo Código Penal. Num de seus desenhos mais conhecidos, o francês Jean Baptieste Debret, que esteve no Brasil de 1816 a 1831, retratou esse suplício e escreveu sobre ele: “O povo admira a habilidade do carrasco que, ao levantar o braço para aplicar o golpe, arranha de leve a epiderme, deixando-a em carne viva depois da terceira chicotada. Conserva ele o braço levantado durante o intervalo de alguns segmentos entre cada golpe, tanto para contá-los em voz alta como para economizar forças até o final da execução. O chicote, que ele mesmo fabrica, tem sete ou oito tiras de couro bastante espessas e bem retorcidas. Esse instrumento contundente nunca deixa de produzir efeito quando bem seco, mas, ao amolecer, pelo sangue, precisa o carrasco trocá-lo, mantendo para isso cinco ou seis a seu lado, no chão (…). Embora fortemente amarrado ao “pau de paciência”, como se chama o pelourinho, a dor dá-lhe tanta energia que a vítima encontra forças para se erguer nas pontas dos pés a cada chicotada, movimento convulsivo tantas vezes repetido que o suor da fricção do ventre e das coxas da vítima acaba polindo o pelourinho. Entretanto, alguns condenados (e esses são temíveis) demonstram grande força de caráter, sofrendo em silêncio até a última chicotada. De volta à prisão, a vítima é submetida a uma segunda prova, não menos dolorosa: a lavagem das chagas com vinagre e pimenta e grande quantidade de sal. “Essas penas, de 50 a 200 chibatadas, são rigorosas, mas há outras bárbaras, como a que condena à morte o chefe de quilombos: são 300 chibatadas ao longo de vários dias. No primeiro, ele recebe cem, à razão de 30 por vez. A última execução abre chagas já profundas e ataca as veias mais importantes, provocando uma tal hemorragia que o negro sucumbe”. Faltas “menos graves” eram punidas com palmatória, cujas pancadas podiam chegar a 200: com o tronco que, segundo Debret, provocava “mais tédio do que dor”; ou com a gargalheira, colar de ferro com vários ganchos que facilitava a captura de escravos fujões. A primeira fuga era punida com a marcação, por ferro em brasa, de um F no rosto ou no ombro do escravo. Na segunda tentativa, o fugitivo tinha uma orelha cortada e, na terceira, era chicoteado até a morte. Outras “faltas graves”, além de fuga, podiam ser punidas com a castração, a quebra dos dentes a martelo, a amputação dos seios, o vazamento dos olhos ou a queimadura com lacre ardente. Houve casos de escravos lançados vivos nas caldeiras ou passados na moenda, além daqueles que, besuntados de mel, foram atirados em grandes formigueiros. O estudo mais aprofundado dos castigos revela que não eram aplicados para “corrigir” o escravo (mesmo porque, muitas vezes não se sobrevivia a els), mas para semear o terror entre os que eram forçados a assistir aos suplícios. As punições eram, em geral, aplicadas por outros escravos – atrás deles, porém, ficava o feitos, sempre pronto a punir qualquer brandura ou esmorecimento por parte do carrasco. Durante 300 anos, o castigo foi uma peça básica para a manutenção de engrenagem escravocrata. Imagens-Fonte: http://migre.me/7uJTO