27 de ago. de 2019

Argolas

Argos espreita incansável
A solidão da noite escura
Não há consolo, há prantos vãos
Há gritos de protestos que ensurdecem
Quebrem as argolas!
Quebrem os ferrolhos!
Quebrem os contratos desumanos!


Está extinta a escravidão.


Argos continua à espreita
O dia é longo e a noite não vem


A solidão virou liberdade
Liberdade por metades
Liberdade sem bondade
Liberdade tão pesada
Bordada de grilhões

A-mor/daçado

Amor que dói
Que mói
Que vem brotando
E se contrai
Em ais

Que fragmenta
Que atormenta
Se espedaça
Se estilhaça

Difícil amar
um amor assim
Cortado, triturado
Despedaçado
Não por inteiro
Em pedaços
Meios.

Poema e Poesia

Escrevi, depois que li Rita Lee


Poema é texto
Poesia é contexto
Intertexto a “coisa-em-si”


Poema é letras
Poesia é música
Som, calma, fúria
DÓ-SOL-LÁ-MI


Poema é escrita
Poesia é imagem
Cor, visão,
imaginação do que vi


Poema é matemática
Poesia é o número Pi

Maria Zulmira

Uma singela homenagem à minha tia Maria



Quem era ela?
De quem ela era?
Foi Maria do papai
Foi Maria do tio João
Foi a Maria da tia Sinhá
Foi a Maria do Patrão


Foi Maria vai com as outras
Foi Maria prostrada ao chão
Foi Maria irmã de Marta
Foi até Maria-João


Um dia mirou por acaso
Um espelho da vida, e sem ira
Olhou, pensou, declarou:
Agora sou, apenas, Zulmira!