Estou lendo "Diário de um médico louco", de Edson Amâncio.
Excelente livro, escrita vigorosa, leitura envolvente, história cativante, suspense constante.
"É preciso arranjar um sentido para a vida. A vida não tem nenhum sentido. A cada um o seu quinhão! Começo o dia com essa proposição filosófica; não sem razão. Outro dia alguém me disse: "Chorar e sofrer ainda é viver".
Desconfio disso. Pareceu-me Dostoiévski, mas posso estar enganado. Não tenho como saber. Embora goste dos russos, tenho motivos de sobra para desconfiar deles. E muito! Gostar e desconfiar! Os dois sentimentos simultâneos. Como vocês verão, mais tarde. Na verdade tenho baixa tolerância para certa espécie de escritores: autores de autoajuda. Abusam do desespero dos outros. Os outros (somos nós) querem se agarrar em alguma coisa. Depois apregoam filosofia de botequim e me dizem: "Case! Tenha filhos, depois netos! Aí você vai ver o sentido da vida". A vida é isso mesmo. Não há solução para coisa alguma. Ninguém se desvencilha do abismo! Ninguém emerge de lá. É só um mergulhar. É só um afundar. Digo que a vida é isso e acabou. Eis aí minha filosofia." (Amâncio, Edson. Diário de um médico louco).
Na página 32, o médico propõe regras para terminar de escrever o diário e também ler os livros da estante na ordem em que estão colocados. Descrevo algumas:
-Esquecer obrigações impostas dentro de casa, como: comprar pão na padaria, atender ao telefone, etc.;
-Banhos semanais rápidos;
-Não fazer barba nem cabelo.
O autor faz referências a Thekhov, Mayakovsky, Bach, tem um encontro surreal com Gógol e Dostoiévski. E muito mais. Tem até diabo intelectual, que cita em latim (Terencio ou Nietzsche), e o demônio, apesar de tudo, não faz propostas indecorosas, do tipo 'vote em mim nas próximas eleições'.
"Afinal, o que é importante nisso tudo? A estratégida do crime, o resultado da ação delituosa bem planejada ou as consequências dela?" p. 82. O personagem fica na dúvida entre matar um velho para roubar ou evitar tal atitude, em uma clara alusão ao neo-Raskolnikov, personagem do livro Crime e Castigo de Dostoiévski.
É um dos melhores livros que li nos últimos dias. Fica aqui a dica.
"...bati-o violentamente no ladrilho. Nada! O rato, agora meio amassado, continuava com os dentes cravados no meu indicador. Oh! O horror! O que não faz o homem no auge do desespero! Não tive tempo para raciocinar. A dor e o ódio embotaram os últimos traços de humanidade que havia em mim. Levantei-o até à altura da minha boca e dei-lhe uma mordida na cabeça, esmagando o seu crânio como se fosse uma cobertura crocante de alguma sobremesa." p.126/7
Oi Jorcenita!
ResponderExcluirParece ser um ótimo livro! Gostei da dica.
Prazer estar aqui! Com tempo, venha ler e comentar OS DOZE ZUMBIS & A CADELA BRAMA no http://jefhcardoso.blogspot.com
Abraço!