30 de jan. de 2018

O Trabalho e os Dias

Eles eram plantadores e moedores de cana, derrubadores de mata e semeadores de mudas; eram vaqueiros, remeiros, pescadores, mineiros, e lavradores; eram artífices, caldeireiros, marceneiros, ferreiros, pedreiros e oleiros; era domésticos e pajens. Guarda-costas, capangas e capitães-do-mato; feitores, capatazes e até carrascos de outros negros. Estavam e todos os lugares: nas cidades, nas lavouras, nas vilas, na mata, nas senzalas, nos portos, nos mercados, nos palácios. Carregavam baús, caixas, cestas, caixotes. Lenha, cana, quitutes, ouro e pedras, terra e dejetos. Também transportavam cadeirinhas, redes, literas onde, sentados ou deitados, seus senhores passeavam (ou até viajavam). Eles eram, de acordo com o Jesuíta Antonil, “as mãos e os pés dos senhores de engenho”. Mas, no Brasil, os escravos fora ainda mais que isso: foram os olhos e os braços dos donos das minas; foram os pastores dos rebanhos e as bestas de carga; fora os ombros, as costas e as pernas que fizeram andar a Colônia , mas tarde, o Império. Foram o ventre que gerou imensa população mestiça e o seio que amamentou os filhos dos senhores. Deixaram uma herança profunda: em 500 anos de história, o Brasil teve três séculos e meio de regime escravocrata contra apenas um de trabalho livre. Que conseqüências teve esse legado? Onde começa e para onde conduz? Quais suas origens? Já houve que arriscasse uma explicação: “Se há um povo dado à preguiça, sem ser o português, então não sei eu onde ele existia (...) Essa gente tudo prefere suportar a aprender uma profissão qualquer”, escreveu o humanista flamengo Nicolau Clenardo, ao visitar Portugal em 1535. É elucidativo que, em Portugal, o verbo “mourejar” tivesse se tornado sinônimo de “trabalhar”. Se no Reino era assim, pior ficou no trópico. Em 1808, ao visitar o Brasil, John Luccock, um Inglês, comentou que os brancos se sentiam “fidalgos demais para trabalhar em público”. Meio século depois, Thomas Ewbank, também britânico, dizia que no Brasil, “um jovem preferia morrer de fome a abraçar uma profissão manual”. Segundo ele, a escravidão tornara “o trabalho desonroso – resultado superlativamente mau, pois inverte a ordem natural e destrói a harmonia da civilização”As críticas não eram arrogância britânica: para Luís Vilhena, mestre português que ensinava grego na Bahia, o Brasil era o “berço da preguiça” Fonte: Brasil: Uma História – Editora Ática – 1ª Edição.

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